Imigrante ilegal e com um tumor cerebral mede forças com os EUA

ANTONIETA CÁDIZ

Sem documentos de legalização e com um tumor cerebral, o caso da salvadorenha Sara Beltrán colocou mais uma vez sobre a mesa o debate sobre o tratamento humano ou desumano que é dado aos imigrantes ilegais que estão sob a custódia do governo federal nos Estados Unidos. Beltrán, de 26 anos e mãe de dois filhos, foi detida no centro de Prairieland, em Alvarado, no Texas, enquanto pedia asilo para permanecer no país. No início de fevereiro, começou a apresentar problemas de saúde: dores de cabeça, enjoos, perda de memória, entre outros sintomas. Segundo informações da Associated Press, ela sofreu um colapso em 11 de fevereiro. Agora está medindo forças com a Administração de Donald Trump.

Após os primeiros sintomas, ela foi levada ao hospital Texas Health Huguley, em Burleson, onde diagnosticaram um tumor cerebral. Ela foi então colocada em uma lista de espera para uma cirurgia de emergência. Mas na última quarta-feira, o Serviço de Controle de Imigração (ICE, na sigla em inglês) a retirou do hospital e a devolveu ao centro de detenção.

“Há muita confusão sobre esse caso”, admitiu ao EL PAÍS Michelle Brané, diretora de direitos de imigrantes e do programa de justiça da Women’s Refugee Commission. “Isso não deveria acontecer. O ICE deveria deixá-la em liberdade aos cuidados de sua família, mas já vimos situações semelhantes anteriormente e não me surpreende com esta Administração”, acrescentou.

A família de Beltrán – baseada em Nova York – e seus advogados estão pedindo liberdade condicional humanitária. Segundo informações que entregaram à Associated Press, Beltrán só está recebendo um analgésico contra as dores. “Este é o 13o dia sem ter feito a cirurgia e não entendemos por quê. Ela não tem dias de vida, tem horas”, declarou a assistente paralegal do caso, Melissa Zúñiga.

A porta-voz do ICE, Danielle Bennett, afirmou que “depois que o médico determinou que o estado de saúde [da paciente] era estável, ela recebeu alta do hospital e voltou para a custódia do ICE”. Além disso, Bennett especificou que Beltrán tem uma consulta com um especialista nesta segunda-feira para que seja determinado seu estado de saúde e que “enquanto isso, a equipe médico do ICE a mantém sob observação”, acrescentou.

Na sexta-feira, a Anistia Internacional lançou uma campanha para que seus membros façam um apelo ao ICE pedindo pela libertação da imigrante, enquanto o recurso está sendo considerado.

“ICE, ICE, solte-a agora!”, gritava um grupo de manifestantes da Anistia Internacional que se reuniu diante de uma das sedes do ICE em Nova York, na sexta-feira. O caso de Beltrán gerou protestos isolados e apelos através das redes sociais, enquanto organizações de defesa dos imigrantes estão ocupadas na luta contra o endurecimento da política migratória sob a liderança de Donald Trump.

A Casa Branca advertiu que serão criados mais espaços de detenção para agilizar as deportações, e Trump proibiu a prática do catch and release, que consistia em libertar os ilegais que não haviam cometido delitos e não reportá-los às autoridades de imigração.

Segundo os registros do ICE, Beltrán entrou nos Estados Unidos por um setor próximo a Hidalgo, no Texas, em 7 de novembro de 2015. Em 26 de janeiro de 2017, um juiz ordenou sua deportação. Os advogados que recorreram da sentença em seu nome alegam que ela tentava fugir da violência doméstica e de outras ameaças.

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