Aplicativos digitais de combate ao bullying, essa foi uma das ideias aprovadas no edital Centelha II, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). Selecionada na primeira versão da chamada, a empresa ‘No Bully’ se estruturou com o objetivo de sanar as problemáticas em torno deste complexo a partir de uma atuação dupla, com crianças e escolas.
A startup surgiu a partir de uma experiência pessoal do próprio fundador. Allan Duarte explica que enquanto trabalhava como menor aprendiz, aos 17 anos, sofreu bullying no ambiente de trabalho. A situação foi agravada, o que o levou a pedir demissão, mas o sentimento de produzir algo em prol da causa continuou. No ano de 2014, ele começou a alimentar este sonho de tentar erradicar ou mitigar a violência escolar, o bullying e o suicídio, atuando principalmente nas escolas.
Neste processo, o empreendedor apostou na ideia de criar uma plataforma digital. São dois aplicativos que fornecem suporte para as crianças e às próprias instituições, contra qualquer forma de agressão.
“Nosso aplicativo ‘No Bully Alunos’ é lúdico, interativo e gamificado. Pelo app é possível acessar materiais e jogos educativos, relatar o bullying e a violência escolar, de forma anônima ou não, enviar uma alerta de emergência, ter acesso a área de prevenção ao suicídio. Além de poder customizar seu próprio avatar. Já o aplicativo ‘No Bully Gestão’ fornece às escolas uma valiosa ferramenta de combate pela qual é possível acompanhar os relatos de forma detalhada, além de análises pormenorizadas que auxiliam na adoção de medidas de enfrentamento”, destaca o fundador da No bully.
Nesse sentido, a equipe ainda oferece produtos e capacitações que auxiliam tais medidas de enfrentamento, corroborando na transformação de um ambiente escolar mais seguro e saudável.
A formação profissional do grupo é multidisciplinar para tratar de um problema que é complexo, atuando numa abordagem sistêmica. Assim o time de profissionais engloba um analista de sistemas, um advogado, um engenheiro, uma psicopedagoga e uma psicóloga.
“Estamos criando o mais completo ‘Ecossistema Antibullying’, atuando de forma a conscientizar, prevenir, analisar e combater o bullying e a violência escolar, além de prevenir o suicídio, por meio de aplicativos, tanto para os alunos como para as escolas, que integram as vítimas de bullying, violência escolar e com pensamentos suicidas às escolas, pais e responsáveis, à comunidade e o governo”, aborda o gestor.
Apoio e investimentos concedidos pela Fapeal
O apoio que a Fapeal conduziu nesta jornada se deu através da primeira edição do edital Centelha Alagoas, que aportou investimentos de ordem financeira, de mentorias e aceleração para ideias inovadoras no estado.
“A Fapeal foi de suma importância para desenvolvermos as melhorias necessárias na transição de um Produto Mínimo Viável (MVP) para um produto profissional e preparado para adentrar no mercado, além de um acompanhamento humanizado, presente por parte dos profissionais da Fapeal. A No Bully cresceu bastante com a parceria com este órgão tão importante para o estado”, frisou o gestor dos apps.
Duarte finaliza abordando que o recurso do edital foi fundamental para a construção deste primeiro MVP da No Bully, que apesar de ter sido uma amostragem pequena, possibilitou a recepção de feedbacks bastante positivos. Por outro lado, esta proporcionou igualmente a identificação e desenvolvimento de importantes pontos de melhorias.
Atualmente, o trabalho das plataformas segue em uma nova versão dos aplicativos e produtos, os quais serão lançados ainda este ano.
Aplicativo de impacto social
Uma das questões importantes que levou ao desenvolvimento dos apps é que não existe faixa etária para sofrer esse tipo de violência. No entanto deve-se destacar que, a incidência maior ocorre na fase escolar, de modo geral com crianças e adolescentes.
Estes jovens ainda estão na fase de construção do intelecto e formação de suas personalidades, sendo difícil muitas vezes procurar o percurso correto para lidar com tais estigmas. As plataformas, portanto se tornam a arma perfeita para driblar o bullying, que segundo o empreendedor pode ser configurado em oito padrões: verbal, moral, sexual, social, psicológico, físico, material e virtual.
Neste contexto, as criações de Duarte foram, além de promover uma transformação social por meio da educação e respeito às diferenças, elas também tinham o desejo de trazer uma cultura de paz, equidade, empatia e inclusão social. Ele entendeu que as consequências para quem vivencia esta violência são muito danosas, e por isso estruturou as plataformas.
Os efeitos para quem sofre vão desde sintomas como ansiedade, depressão, baixa autoestima, queda no rendimento escolar, até complexos como automutilação, ataques de pânico, calafrios, insônia, e pode até levar ao consumo de álcool, drogas e pensamentos suicidas e homicidas.
É importante também ressaltar que a sociedade deve tomar conhecimento sobre a legislação específica vigente para o bullying no Brasil. No país existe a Lei Federal nº 13.185/2015 que institui o programa de combate ao Bullying em todo o território nacional e que permite ao Ministério da Educação e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação fundamentarem suas ações no respectivo programa.
No geral, a Lei introduz conceitos, características e classificações aplicáveis ao assunto, definindo, ainda, os objetivos perseguidos e os deveres das instituições de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas, em especial o de assegurarem medidas de conscientização prevenção, diagnose e combate à violência e ao bullying.
Tárcila Cabral