Ele jogou no Internacional nos anos 1980 e agora é professor universitário e médico renomado, em São Paulo
O destino de ex-jogadores de futebol costuma gravitar em torno da bola quando soa o apito final da aposentadoria. Ex-boleiros gostam de virar técnico, empresariar craques, ser comentarista de rádio ou TV, ensinar criança a bater pênalti.
Claro, existe a legião dos que se desgrudam para sempre do ímã de 410 gramas de peso e 68 centímetros de circunferência. Penduradas as chuteiras, dedicam-se a profissões surpreendentes. Veja-se o caso de Marcos Francisco Dall’Oglio, o Marquinhos, ex-volante do Internacional na década de 1980. Trocou a bola pelo bisturi: é médico urologista e professor universitário em São Paulo.
Marquinhos, aliás doutor Marcos, é tão conceituado que participou da equipe que operou o vice-presidente da República José Alencar, no ano passado. Substituiu o seu mestre, o urologista Miguel Srougi, que estava viajando, na tarefa de reconstruir o aparelho urinário do ilustre paciente. Foi uma operação delicada, pois Alencar vem se submetendo a uma rotina de intervenções para extirpar focos de câncer.
Mas antes de se transformar na sumidade que é, requisitado para cirurgias pelo Brasil, Marquinhos correu atrás da bola – e do sonho de envergar a camiseta amarela da seleção canarinho. Nascido em Passo Fundo, filho de um dentista e de uma professora primária, ingressou no time do 14 de Julho adolescente. Batizou as canelas na fumaceira da segunda divisão do futebol gaúcho. Em campos rapados, deparou com adversários veteranos que rosnavam ameaças e prometiam bater da medalinha para baixo.
Marcos jocou com Dunga e Taffarel
O ano de 1984 foi chave para Marquinhos. Ao mesmo tempo em que se matriculava na Faculdade de Medicina, era convocado pelo Inter. Logo na estreia, aos 18 anos, conquistou o gauchão. Estilo polivalente, esguio nas medidas (1m82cm e 70 kg), marcava e atacava. Não esquece a emoção do primeiro gol que marcou no Beira-Rio, conserva a gravação do locutor Armindo Antônio Ranzolin entre os seus troféus.
Marquinhos tabelou com feras – Taffarel, Aloísio, Mauro Galvão, Dunga, Ruben Paz, Luiz Carlos Winck. Foi treinado por raposas do futebol, como Ênio Andrade, Daltro Menezes e Paulo César Carpeggiani. Mas não se firmava como titular, ele próprio admite. Então, pediu para sair do Inter, rodou por Pelotas, Figueirense e Atlético do Paraná, onde resolveu abandonar os gramados.
Tinha apenas 24 anos quando voltou à sala de aula em definitivo. Formou-se pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) em 1993, obtendo o primeiro lugar na prova para residência em cirurgia. Se a carreira de atleta não alcançou a projeção desejada, a médica deslanchou. Acompanhe alguns dos principais golaços de Marcos:
* Doutorado pela Faculdade de Medicina, Divisão de Urologia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2000.
* Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 2009.
Tome fôlego para mais novidades. Marcos joga no escrete de galácticos da sua especialidade:
* É chefe do setor de uro-oncologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, desde 2006.
* É chefe do setor de uro-oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, desde 2008.
* Atua nos hospitais Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e Albert Einstein, em São Paulo.
Casado com a gaúcha Giovana (também médica), pai de Isabela, 11 anos, e Rafaela, nove anos, Marcos pode se considerar duplamente realizado. Aos 18 anos, vestiu a mítica camiseta colorada que pertenceu a Falcão. Hoje, aos 44 anos, é ainda mais feliz de jaleco branco salvando vidas.
Nilson Mariano
nilson.mariano@zerohora.com.br