Histórias do futebol : O estádio do Mutange

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A segunda arquibancada de madeira do estádio do mutange em 1949. A visão é das arquibancadas que ficavam no lado da Lagoa. (Foto : www.museudosesportes.com.br)
A segunda arquibancada de madeira do estádio do mutange em 1949. A visão é das arquibancadas que ficavam no lado da Lagoa. (Foto : www.museudosesportes.com.br)

Tudo começou num passeio de bonde do antigo craque do CSA, Polichinelo (Odulfo Ribeiro) e Virgílio de Brito. Este, um grande idealizador da campanha que culminou com a obtenção do terreno e a construção do estádio do mutange. Apanhando o bonde na praça do Governo, hoje a tradicional Praça dos Martírios, onde se localiza o Palácio do Governo Estadual, os dois desportistas passaram pelo local, que na época era onde se situava o “Grande Ponto Parque” (um parque de diversões com bares e bazares). Virgílio de Brito confessava o seu sonho de transformar aquele lugar na sede e estádio do CSA. Os dois saltaram do bonde e, procuraram saber quem era o dono do terreno. Foram informados de que o dono era Alfredo Vugner.

O CSA precisava de um estádio e esse sonho alimentou os planos de Virgílio de Brito que, ao saber o nome do dono do terreno em Bebedouro, arquitetou uma manobra para conseguir com seu entusiasmo o local para a construção de um patrimônio azulino. Foi assim que, mesmo sem divulgar suas intenções, Virgílio de Brito programou um torneio interno no CSA e deu a um dos times participantes o nome de “Alfredo Vugner”. Sabedor de que seu nome estava sendo homenageado através de uma equipe, Alfredo Vugner ficou imensamente entusiasmado e mesmo sem ser um grande admirador do futebol, compareceu aos jogos do torneio interno e até resolveu ofertar um rico troféu ao vencedor. Sabiamente, Virgílio de Brito havia formado o melhor time do torneio com o nome de Alfredo Vugner. Um time que terminou sendo campeão e recebeu do seu patrono o rico troféu. Tal acontecimento empolgou mais ainda o dono do terreno onde ficava o Grande Ponto Parque, que resolveu se tornar um dos sócios do CSA. Estava aberto o caminho para os planos de Virgílio de Brito.

Ganhando a admiração e a confiança do novo associado não ficou difícil para Virgílio de Brito expor o seu sonho de procurar um local para construir o próprio campo do CSA. E foi mais fácil ainda confessar para Alfredo Vugner que tinha achado um local maravilhoso em Bebedouro, mas que não sabia quem era o dono do terreno para poder negociar. E quando ele declarou que era o dono do tal terreno, Virgílio de Brito fingiu um supressa incrível, como se tudo aquilo não significasse o desfecho favorável dos seus planos.

O terreno, porém, já estava sendo negociado com uma firma alagoana, mas que nada havia de definitivo. Contudo, Alfredo Vugner garantiu que se o negócio não ficasse concluído, ele faria todo esforço para vendê-lo ao CSA. E assim aconteceu. O terreno era muito grande. Começava na beira da Lagoa e terminava na avenida que dava acesso ao bairro de Bebedouro. Um terreno muito grande e que custou ao CSA a quantia de trinta mil réis. Como não havia dinheiro, Alfredo Vugner facilitou tudo para o clube azulino. Aceitou duas promissórias de quinze mil réis, que foram descontadas no Banco de Alagoas, hoje Banco do Estado de Alagoas. Na data do vencimento, o clube azulino ainda não tinha o dinheiro e o jeito foi firmar um acordo com o desportista Aristeu Bastos, que resgatou a promissória ficando de receber o dinheiro do CSA posteriormente.

Enquanto tudo isso acontecia, a construção do estádio foi iniciada. Foi um esforço conjunto de todos os associados, diretores e jogadores que, a cada domingo e feriado, compareciam ao mutange para desbravar o terreno rolando toros de madeiras, derrubando árvores, pegando pás e picaretas. Muita gente boa, altos comerciantes, bancários, desportistas, formaram o bloco de trabalhadores para preparar o gramado. Pessoas como Manoel Lopes Pinto, Osvaldo Machado, Aguinaldo e Osvaldo Florêncio, Francisco Rizzo, Vicente Grossi, Miguel Cardoso, Manoel Buarque, Antonio Bispo, Manuel Campelo, Ernesto Silveira, Eudes Coelho da Paz,
Davino e Aristides Ataide, Luciano Lordslem, Lessa de Azevedo, José Angelo, Manoel Ferri,
Aloisio Nogueira, Alberto Fontan, Antonio Bessa, Antonio Bráulio, Odulfo Ribeiro, Virgilio de Brito e mais alguns.

Havia um consenso inabalável. Todo mundo desejava levantar o CSA, tornando-o forte, dono de um patrimônio enorme e imbatível. As esposas e filhas também prestaram sua colaboração, comparecendo à frente de batalha trajando uniforme do clube e ajudando os homens em seus esforços, inclusive distribuindo refrescos e bolinhos. Era um autêntico mutirão.

Somente em 1934, na gestão do presidente Paulo Pedrosa é que o terreno foi regularizado. Aristeu Bastos, que resgatou as promissórias e era cunhado de Paulo Pedrosa, residia no Rio de Janeiro. Demonstrando se desfazer do terreno onde já estava o campo do mutange, Aristeu tentou entrar em acordo com o CSA. Com a falta de dinheiro, Paulo Pedro sugeriu que o clube ficasse com parte do terreno por vinte contos de réis que seriam pagos em quatro prestações de cinco mil reis. Aristeu Bastos aceitou a proposta do cunhado e o presidente azulino fez uma campanha de novos associados para conseguir arrecadar o suficiente para pagar o local do estádio do mutange.

Inaugurado em 1922, o mutange sofreu algumas alterações ao longo do tempo. As primeiras arquibancadas de madeira tinha as formas mais modernas para a época. O próprio tempo se encarregou de enfraquecer a madeira e destruir parte das arquibancadas. A partir da metade da década de trinta, as arquibancadas de madeira já não tinham as mesmas marcas da modernidade. Mas, para chegar ao mundo de cimento e concreto, o mutange partiu de um campo com dependências acanhadas, arquibancadas de madeira de um lado e uma geral sem muitas condições, formada apenas por uma pequena barreira que acompanhava dois lados do campo. Na administração no presidente Benicio Monte, o mutange ganhou arquibancadas de cimento armado, gerais de alvenaria e iluminação artificial. Para a época, o mutange se transformava no mais moderno estádio de futebol de Alagoas. Até a inauguração do Trapichão, os maiores espetáculos esportivos realizados em nossa terra foram disputados no mutange graças ao entusiasmo dos azulinos e um homem de visão chamado Benicio Monte.

Na década de setenta, os presidentes Fernando Collor e Aurélio Lages chegaram a construir duas piscinas e uma concentração. Infelizmente, os dirigentes que o substituíram não continuaram sua obra e o tempo se encarregou de destruir tudo que tinha sido erguido. E tudo acabou com o presidente João Lyra. Apesar de ter colocado o futebol do CSA em lugar de destaque, conquistando alguns títulos importantes, o presidente não cuidou do patrimônio do clube. Ao contrário. Destruiu as arquibancadas de cimento prometendo erguer novas e modernas acomodações para o torcedor e tudo ficou o dito pelo não tido. Hoje, o mutange é um campo de futebol. Na nova diretoria, o presidente José Venâncio, tem no conselheiro Euclydes Mello seu grande comandante. Eles fizeram um pacto para reconstruir o Estádio do Mutange. Em 1996, foram feitas as primeiras obras para recuperar seu estádio. Substituição de todo o serviço de drenagem, do alambrado, recuperação e pintura do muro, colocação de um novo portão, melhoria na concentração, nivelamento do terreno para construção de futuras arquibancadas e limpeza total da área. O visual é outro e a torcida já começa a acreditar que
poderá, ter em breve, a sua casa renovada. O mutange ainda não dispõe de instalações adequadas para o conforto de sua torcida, mas o primeiro passo já foi dado.

Dia 15 de novembro de 1922.
Centro Sportivo Alagoano 3 x Centro Sportivo do Perez de Recife 0
O primeiro gol no mutange assinalado por Odulfo. Outros gols:Alyrio e Bráulio.
Estreiava no CSA o goleiro Mendes, chamado de Gato do Nordeste.
O CSA jogou com Mendes. Rosalvo e Hilário. Campelo. Mimi e Lindolfo.
Alyrio. Bráulio. Odulfo. Passos e Nelcino.
O Perez com Mario. Abelardo e Euclides. Poggy. Lobo e Passos.
Manta. Jorge. Theodoro. Guaray e Bello.

A primeira iluminação no campo do mutange aconteceu no ano de 1934. Foi a grande novidade da temporada. O Nordeste, clube que pertencia a Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil S/A, resolveu colocar uma iluminação provisória no campo do mutange para a realização de três jogos do Tramways do Recife.

A iluminação consistiu na colocação de 100 refletores pequenos num total de trinta e quatro mil velas. Para a época, era uma iluminação razoável. A outra novidade, era a bola pintada de branco. Não havia bola para os jogos noturnos, e o jeito mesmo eras pintar as de cor marrom, usadas nos jogos diurnos.

O primeiro jogo foi realizado no dia 20 de outubro com o Tramways de Recife vencendo o Nordeste por 5×3. No dia seguinte, contra o CSA, o jogo foi pela tarde, e nova vitória do clube pernanbucano: 3×2.

A iluminação definitiva aconteceu em 1950 quando da gestão do presidente Benicio Monte. Primeiro, o presidente construiu as arquibancadas de cimento armando e as gerais de alvenaria. Logo depois, colocou energia elétrica no mutange. Foram oito postes com seis refletores em cada poste. O primeiro jogo aconteceu no dia 24 de maio de 1950; Santa Cruz de Recife 3 x CSA 0. O primeiro gol foi assinalado pelo Guaberinha. A novidade desta partida foi o arbitro inglês Mr. Lowe, que era radicado no futebol pernambucano.


 

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