O estádio da Pajuçara surgiu na história do Clube de Regatas Brasil de maneira interessante. Quando os irmãos Gondim mais Lauro Bahia, José Leite, Abelardo Duarte e outros, ingressaram no clube da Pajuçara, começou a aparecer o futebol. E tudo iniciou com os “rachas” no meio das ruas da Pajuçara. Como muitas vidraças foram quebradas, a turma sentiu a necessidade de se encontrar um local onde o Clube de Regatas Brasil pudesse jogar futebol, um esporte que começara a mexer com os rapazes alvi rubros. O local escolhido é o mesmo onde hoje se encontra o estádio Severiano Gomes Filho, o estádio da pajuçara. O terreno pertencia a Dona Maria Torres que arrendou o local para o clube por duzentos mil réis. Foi preciso muito trabalho para se nivelar o terreno que era cheio de altos e baixos. Mas, todos estavam entusiasmados com o futebol, e aos domingos e feriados, dirigentes junto com seus atletas e familiares e mais simpatizantes, trabalhavam forte para preparar o local para um campo de futebol. Isso aconteceu em 1916. Um ano depois, na gestão de Pedro Lima, começaram as obras para a construção de um estádio verdadeiro. Antes, era somente o campo de futebol. A tenacidade e o esforço do seu presidente e seus companheiros, esbarravam na qualidade do terreno, onde a grama demorava a nascer. Mesmo sem recursos financeiros, o trabalho não parava. Ia devagar, mas ia.
O primeiro jogo interestadual aconteceu no dia 02 de maio de 1920. O CRB trouxe a Maceió a equipe do Flamengo de Recife. Na época, o rubro negro pernambucano era um das melhores equipes daquele Estado. Somente no dia 21 de fevereiro de 1921 é que foi lavrada a escritura de aforamento do terreno que até aquela data continuava arredado. Enquanto isso, os trabalhos no estádio continuavam. Para alegria de todos, no dia 09 de setembro de 1921, eram inaugurado o primeiro lance de arquibancada num jogo festivo contra o Centro Sportivo do Peres também de Recife. Na época, as arquibancadas era de madeira. As grandes arquibancadas de cimento armado somente iniciaram sua construção em 1954. São as mesmas que ainda hoje se encontram no estádio com uma pequena ampliação.
Vitórias trazem alegrias, abraços e prêmios. Derrotas trazem dessabores, apenas isso. A maioria dos torcedores e dos críticos são volúveis e ingratos. Hoje, sucesso e aplausos. Amanhã, apupos e esquecimento. Todos os dramas, os sucessos, as vitórias, as derrotas, os títulos, enfim, tudo que o futebol continua nos oferecendo, o velho e simpático estádio da pajuçara sentiu através dos anos. Quantos jogos sensacionais foram ali realizados ? Quantas decisões foram disputadas ? Quantas emoções foram vividas ?
Durante o decorrer dos anos, a torcida ficou acostumada ao desconforto, aos apertos, as dificuldades para observar um lance se sensação. É nesse momento que todos se levantam e a visão fica prejudicada para muitos. Mas era gostoso torcer na pajuçara. Era bom sentir seus ídolos de perto, conversar com eles. Quarenta ou cinqüenta anos atrás, nos intervalos dos jogos, os atletas podiam ir as arquibancadas conversar com seus amigos e namoradas. O jogador sentia o calor do torcedor mais de perto. Para xingar, reclamar, aplaudir e incentivar, a galera ficava junto ao alambrado, e os jogadores ouviam os palavrões ou o incentivo mais claramente.
Na Pajuçara os muros eram baixos, e havia facilidade para se pular. Muitos, entretanto, preferiam ficar em cima do muro, ou mesmo nos galhos das arvores que ficavam perto do campo. E lá, num tremendo esforço para não cair, torciam por seus clubes com o mesmo entusiasmo daqueles que estavam nas arquibancadas. Para conseguir um lugar no muro ou nos galhos das arvores era preciso muita malícia e agilidade.
Um dos dias que o estádio das pajuçara mais recebeu publico, foi quando o Santos de Pelé nos visitou pela primeira vez, em 1965. Já pelas dez da manhã, o estádio começara a receber torcedores. Ninguém queria deixar de ver o rei do futebol. Mesmo assim, muita gente ficou de fora. Mas, o estádio ficou colorido, cheio de vida, de vibração, de entusiasmo. E todos tinham suas atenções voltadas para o campo de jogo, onde os jogadores corriam para alcançar a bola, girava no balanço do drible, saltavam para cabecear e os goleiros voavam como pássaros nas bolas altas. Até parecia que todos dançavam ao ritmo dos gritos dos torcedores.
O Clube de Regatas Brasil comemorou intensamente as conquistas dos títulos de 1964 e 1969, em seu estádio, logo contra seu velho e tradicional rival, o Centro Sportivo Alagoano. Foram conquistas memoráveis com vitorias inesquecíveis. Mas, o palco da pajuçara, também serviu para conquistas do CSA. Foi na pajucara que os azulinos conquistaram o titulo do sesquecentenário em 1965, o ano em que iniciava a caminhada para seu segundo tetra campeonato. E foi esse mesmo tetra campeonato conquistado em plena Pajuçara com uma vitória sobre o CRB por 3×2 em 1968. Foi uma grande conquista, muito maior ainda por ter sido no campo do adversário. E os alvi rubros tiveram que engolir a festa azulina. Todos esses dramas, essas alegrias, essas tristezas, fazem parte da historia gloriosa do estádio da pajuçara, Um estádio como tantos outros, onde o gol não tem regras de perfeição. Lá foram assinalados todo tipo de gols. Como foram não importa, O que interessa é que a bola vá as redes. O resto fica por conta dos torcedores.
Depois, em 1970, surgiu o colosso do Trapichão. Grande, confortável, cheio de vida. O transporte melhorou, os caronas os mesmos, as emoções e os espetáculos, nada mudou. Apenas, o conforto levou novos torcedores para o Trapichão. E o estádio da Pajuçara foi abandonado. Anos atrás, o estádio propriamente dito estava desgastado com as arquibancadas destruídas e a gramado queimada pelo sol. Algumas reformas foram feitas, principalmente com a construção de uma excelente concentração com departamento médico e a secretaria do clube que passou a funcionar no estádio. Mesmo assim, a pajuçara serve apenas para treinos e jogos do esporte amador.