São Paulo – Roupas curtas e dias longos tornam a exposição ao sol praticamente inevitável no verão. E mesmo quem passa filtro solar diariamente pode estar menos protegido do que imagina contra o câncer de pele e o envelhecimento precoce. A aplicação de quantidades insuficientes do produto reduz o fator de proteção solar (FPS) a menos da metade, mostra um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Criamos uma equação que estima o real valor do FPS de acordo com a quantidade de filtro solar aplicada”, explica Sergio Schalka, autor principal da pesquisa, publicada pela revista “Photodermatology, Photoimmunology & Photomedicine”. “A queda da proteção é exponencial, ou seja, se você passar metade da quantidade recomendada de um protetor solar com FPS 20, o FPS real que você terá será 7.”
Segundo Schalka, pesquisas anteriores mostraram que os usuários aplicam entre 0,4 miligrama e 1 miligrama de filtro solar por centímetro quadrado do corpo, quando o recomendado pelos fabricantes é de 2 miligramas. “Não adianta nada você comprar um protetor de ótima qualidade, com FPS altíssimo e aplicar de forma inadequada”, alerta o dermatologista.
Outro erro comum, diz ele, é não reaplicar o filtro solar com frequência durante o período de exposição solar. “Depois de duas horas, o protetor já foi para o espaço por causa do suor, do atrito da pele com a roupa ou com a areia da praia. Mesmo um filtro que em teoria garante proteção por um tempo longo precisa ser reaplicado.”
Fator 30
A Academia Americana de Dermatologia recomenda, desde outubro do ano passado, que o FPS mínimo dos filtros solares seja 30. “Aqui no Brasil já temos falado isso há pelo menos dois anos, embora não exista uma recomendação oficial”, explica Schalka, que também é membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Essa preocupação deve ser constante, pois o sol do dia a dia, ao longo da vida, prejudica mais que o da praia uma vez por ano.”
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de pele é o tipo mais incidente no Brasil. A estimativa para 2008, a mais recente, ultrapassava 120 mil casos. Embora a letalidade desse tipo de tumor seja baixa, nos casos em que há demora no diagnóstico pode haver risco de ulcerações e deformidades físicas graves.
“A maioria dos cânceres de pele é causada por exposição excessiva ao sol”, afirma o oncologista Rafael Aron Schmerling, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. “O melanoma é a forma mais grave, mas também a menos incidente. Geralmente envolve um fator genético, uma história familiar.” O filtro solar, alerta Schmerling, é apenas uma das medidas de fotoproteção. “Também é preciso usar chapéu, óculos, guarda-sol e, principalmente, evitar o sol entre 10 e 16 horas.”
AE