Um abaixo-assinado pede que o papa Francisco não respalde com sua visita a misteriosa aparição na cidade portuguesa
JAVIER MARTÍN
O papa Francisco visitará Portugal no ano que vem para comemorar o centenário da aparição da virgem a três pastorzinhos na localidade de Fátima, segundo a Igreja Católica.
O anúncio motivou um manifesto intitulado Contra a Credibilização do “Milagre” de Fátima, que está recolhendo assinaturas via Internet para que o pontífice visite o que quiser, mas que não perpetue essa história. Já são mais de 600 assinaturas em poucos dias, entre elas a de um sacerdote, além de antropólogos e personalidades da sociedade civil, como o músico Pedro Barroso, um de seus porta-vozes.
O abaixo-assinado não se opõe à visita nem à Igreja Católica, e sim, segundo os signatários, à propagação de algo infundado. “O milagre é um embuste, uma farsa, uma má encenação com cem anos, tempo suficiente para ter desmascarado o que hoje em dia é um negócio”, declarou Barroso à agência Lusa.
“O papa Francisco é uma personalidade que merece algum respeito nosso por muitas atitudes em favor de uma Igreja mais moderna, uma Igreja de verdade, uma Igreja Católica de grande responsabilidade, e muitas vezes com intervenções sociais e públicas de grande valor. Como vai referendar uma coisa destas?”, pergunta-se Barroso.
Os signatários pedem a Francisco que, se visitar Fátima, se muna do açoite para expulsar os vendilhões do templo que, no entender deles, é o que virou o santuário edificado no lugar das supostas aparições aos pastores, visitado por milhares de pessoas anualmente.
O manifesto recomenda uma série de livros sobre o que realmente ocorreu, como Fátima Nunca Mais (1999) e Fátima S/A (2015), do padre Mário do Oliveira, signatário do manifesto, e ressalta que a época do suposto milagre era marcada por um “grande obscurantismo cultural e com evidente aproveitamento dessa rústica ignorância” por parte da Igreja
“Não é preciso um grande esforço”, diz o texto, “para chegar a esta conclusão, nem grande erudição teológica para analisar o caso. A evidência do logro fica bem clara, bastando, no essencial, ler alguns documentos oficiais e alguns livros de pessoas – algumas assumidamente católicas – com autoridade na matéria […] para concluir pela sua total inconsistência”.
O abaixo-assinado diz que, seguindo a postura de seriedade que vem adotando em seu pontificado, “o melhor serviço que o papa Francisco prestaria à verdade histórica, seria NÃO vir a Fátima, assim desmistificando o chamado ‘milagre dos pastorinhos’, recusando colaborar com ele, ou dar-lhe o seu aval”.
Francisco será o quarto Papa a visitar Fátima, depois de Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991 e 2000) e Bento XVI (2010).
El País Brasil