Covid-19: Arquidiocese acolhe mais de 200 pessoas em situação de rua Parceria com poder público e a comunidade oferece mais de mil refeições por dia

“Igreja Orante, Missionária e Samaritana”. O lema do governo arquiepiscopal de Dom Antônio Muniz Fernandes, O.Carm., resume bem o trabalho desenvolvido há dois meses com mais de 200 pessoas em situação de rua, que foram acolhidas em dois abrigos provisórios como forma preventiva contra o coronavírus. A ação da Arquidiocese de Maceió em parceria com a Prefeitura de Maceió, Governo de Alagoas e a comunidade oferece 1.200 refeições por dia e uma programação diversificada para entreter os acolhidos.

O dia começa cedo para as famílias e os colegas conhecidos já das praças, ruas, viadutos, vindos de uma vida amarga. Com a pandemia, a rotina mudou. O despertar é às 5h30 para um dia produtivo com refeições, mutirão de limpeza e organização dos espaços que se tornaram uma casa, atividades com voluntários, profissionais da Saúde e da Assistência Social, exibição do jornal, momentos de oração e até o Cine Pipoca, com filmes educativos e de lição de vida.

Assim é o dia a dia das pessoas em situação de rua acolhidas pela Arquidiocese de Maceió. O prédio cedido pela Casa Dom Bosco acolhe em média 40 idosos – que fazem parte do grupo de risco – e o Centro de Educação de Jovens e Adultos, cedido pela Secretaria Estadual de Educação, está com mais de 160 pessoas divididos em “quartos” para famílias, homens e mulheres. Todas as crianças estão com os pais.

Se o maior desafio do enfrentamento ao coronavírus  é de manter o isolamento social, como orientam os órgãos de saúde, para o Frei João, da Fraternidade Casa de Ranquines e coordenador da Pastoral do Povo da Rua, o problema se tornou ainda maior para aqueles que ouviam o “fique em casa”, mas que não têm casa. Inquieto com a situação, o religioso articulou, com o Setor Juventude, a instalação dos abrigos com o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua em Maceió, Prefeitura de Maceió e o Governo de Alagoas.

“Nos cederam kit dormitório e de higiene, almoço e janta com quentinhas vindas do Restaurante Popular e do “Bandejão”.  O café da manhã, lanches, acolhida e organização ficaram por conta da Arquidiocese de Maceió. Tudo é mantido por doações, inclusive da sociedade civil que tem nos ajudado bastante graças a Deus, para que a gente possa exercer o trabalho como maior dignidade”, pontua Frei João.

Além da assistência aos moradores que estão nos abrigos provisórios, a Fraternidade Casa de Ranquines também acompanha outras pessoas em situação de rua que não aceitam viver nos abrigos, como lembra o frei: “Há várias pessoas que nós não conseguimos tirá-las da rua, mas continuamos dando assistência com alimentação e conscientização”.

Olhar samaritano

O arcebispo metropolitano de Maceió lembra que apesar do isolamento social, a Igreja está presente na vida dos mais necessitados. “Assim como eu, que faço parte do grupo de risco, também outros padres não podem estar presentes nos abrigos, mas isso não significa que estamos deixando acontecer de qualquer forma. Estamos participando efetivamente disso tudo”, informa Dom Antônio Muniz.

Apesar de todo apoio já recebido, os abrigos continuam dependendo da solidariedade de todos. As doações podem ser entregues na Casa de Ranquines, ao lado da Catedral, ou no Santuário Arquidiocesano Virgem dos Pobres, em Mangabeiras. As contribuições em dinheiro podem ser realizadas por depósito ou transferência nas contas bancárias da Associação Católica São Vicente de Paulo (CNPJ: 08.585.407/0001-30): Caixa – Agência 0055, Operação 003, Conta Corrente 3039-7 e Banco do Brasil – Agência 3179-8, Conta Corrente 42450-1.

“Peço que os fiéis e toda sociedade continuem no mesmo espírito de disponibilidade de ajuda que têm demonstrado para conosco, contribuindo com material de limpeza e higiene, café da manhã e o lanches. Continuamos precisando das mãos estendidas de todos”, reforça o arcebispo, que também lembra outros trabalhos com a população em situação de rua: “temos a comunidade dos mórmons, muitas igrejas evangélicas, CUT e tantos outros que também se sentem sensibilizados, nos ajudam e têm seu trabalho próprio. Que permaneçamos juntos e que Deus nos abençoe, que tudo seja para o bem e para Deus, para a comunidade mais necessitada, pobre e vulnerável”.

Uma mensagem de Dom Antônio foi exibida para os acolhidos nos abrigos com um pedido de paciência e uma mensagem de quem se preocupa com os mais necessitados. “Tenham um pouco de paciência. Eu sei perfeitamente da ansiedade que existe, da vontade de sair, mas não saiam. Vocês não estão sós, todos nós estamos preocupados com esta casa que é de vocês, que é de todos nós”, expressa o metropolita.

Experiência evangelizadora

A Arquidiocese de Maceió também atua na ação por meio do Setor Juventude e Federação Recriar (Rede Cristã de Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico do Estado de Alagoas).

Para Cauê Castro, representante dos dois organismos, o trabalho tem permitido uma aproximação maior da Igreja com a história de vida de cada pessoa em situação de rua. “É uma experiência desafiadora, mas também enriquecedora. São pessoas por quem a gente passou a ter um carinho ainda maior a partir da oportunidade de conhecer as histórias, percebendo, por exemplo, que há talentos sendo perdidos e buscamos resgatar e dar um pouco da dignidade”, ressalta.

O trabalho desafiador, segundo o representante da juventude, está ligado à mudança de rotina dos acolhidos: “Foi muito difícil a adaptação ao local pela questão da abstinência, as regras e a organização dos espaços. No entanto, tivemos todo um trabalho acolhedor com irmãos e irmãs da Casa de Ranquines, voluntários, atividades e acompanhamento técnico das secretarias municipais de Saúde e de Assistência Social, ou seja, o poder público age com a parte técnica e a Igreja com a mão de obra voluntária e doação”.

O Auxílio Emergencial foi garantido aos acolhidos também pelo trabalho dos abrigos provisórios, já que a maioria não tem celular. As solicitações e acompanhamentos dos cadastros foram realizados no próprio local e todos com acesso ao benefício sacaram o próprio dinheiro. “Se eles estivessem na rua talvez nem soubessem deste direito e aqui cada um recebeu diretamente nas mãos”, afirma Cauê.

Já são dois meses de assistência e a preocupação da Arquidiocese de Maceió é de manter os abrigos provisórios até o fim da pandemia. “Há uma tendência das doações diminuírem, já que quem doou uma vez talvez não possa doar novamente e sabemos que a situação está complicada para todo mundo, mas a gente continua com o apelo para que as pessoas continuem ajudando”, acrescenta.

Por: Thiago Aquino/Pascom Arquidiocesana

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