Sete personalidades serão agraciadas este ano com o Prêmio Tia Marcelina, uma homenagem à ex-escrava de origem africana, descendente do Quilombo dos Palmares e matriarca do Candomblé em Alagoas. O evento acontecerá no próximo dia 14, no Jatiúca Hotel & Resort, em Maceió, a partir das 18h30.
O Prêmio Tia Marcelina é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), em parceria com o Conselho de Promoção da Igualdade Racial de Alagoas (CONEPIR). Foi criado em 2016 pelo governador Renan Filho para reconhecer e agraciar pessoas e entidades que atuam na luta pela igualdade racial e trabalham para a promoção dos direitos dos negros e negras em Alagoas.
A secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, Maria Silva, mulher negra e indígena, ressaltou a importância de reconhecer o trabalho de pessoas que lutam diariamente contra a desigualdade social, racial e cultural. “Precisamos de união. Todos os dias somos desafiados a quebrar estereótipos e preconceitos encarnados em nossa sociedade. A valorização e a promoção das pessoas que escolheram como missão de vida a batalha por justiça e respeito é um passo importante no caminho da igualdade”, afirmou a secretária.
Homenageados 2019
Os escolhidos para receber a honraria do Prêmio Tia Marcelina deste ano são:
Valdice Gomes da Silva, jornalista e editora da Coluna Axé do jornal Tribuna Independente e vice-presidente do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, onde coordena o Projeto Vamos Subir a Serra; Eliane Silva, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST); Mirian Araújo Souza Melo, conhecida como Mãe Mirian, mais antiga matriarca da religião afro-brasileira em Alagoas; Amaro Félix Filho e Alaíde Bezerra dos Santos, quilombolas e lideranças do povoado de Tabacaria, em Palmeira dos Índios, e Ana Paula de Oliveira Santos, pescadora e pesquisadora, bacharel em Ciências Sociais, licencianda em pedagogia e liderança da comunidade de pescadores da Barra de Santo Antônio.
Duas entidades também serão agraciadas com o Prêmio, a primeira é a APOIME – Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. A APOINME luta por políticas públicas de sustentabilidade, reunindo a juventude indígena com a organização de formações, seminários, encontros e marchas de reivindicações por direitos. A segunda entidade é o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, organização não-governamental fundada em 1988 e vinculada aos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs), o Anajô reivindica a promoção de políticas públicas para a igualdade racial, além de desenvolver trabalhos pelo empoderamento de negros em Alagoas.
“O Prêmio Tia Marcelina é um importante instrumento no enfrentamento à discriminação das religiões de matrizes africanas e das manifestações da cultura negra tão presentes nas nossas raízes. É um momento de reflexão e de fortalecimento em prol do respeito às tradições e conquistas da comunidade negra”, destacou Mirabel Alves, superintendente de Políticas para os Direitos Humanos e a Igualdade Racial da Semudh.
Histórico
A solenidade de 2018 contou com os seguintes homenageados: Fabíola Silva, mulher negra e travesti, fundadora da ONG Pró-Vida, e conselheira estadual de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT – CECD/LGBT; Rosa Mossoró, reconhecida ativista cultural em Alagoas, já agraciada em outros momentos pela Fundação Cultural Zumbi dos Palmares e pelo Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas; Ana Cristina Conceição Santos, ativista negra no campo acadêmico, professora do Campus Sertão da Universidade Federal de Alagoas. Maria Joana Barbosa, líder quilombola da Comunidade Carrasco, em Arapiraca; Pai Alex Gomes, como é conhecido, o babalorixá e mestre juremeiro, religião afro ameríndia típica do Nordeste. A diretora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Ufal, Lígia dos Santos Ferreira e Arísia Barros, professora, escritora e coordenadora do Instituto Raízes de Áfricas de Alagoas.
Tia Marcelina foi uma ex-escrava africana de Janga, Angola, descendente do Quilombo dos Palmares e de família real africana. Juntamente com Manoel Gelejú, Mestre Roque, Mestre Aurélio e outros, fundou os primeiros Xangôs do Brasil no bairro de Bebedouro, em Maceió. Tia Marcelina morreu durante o “Quebra de Xangô”, episódio que perseguiu e torturou em 1912, representantes das religiões de matrizes africanas.
Texto de Ana Cristina Sampaio e Joanna de Ângelis