O torcedor gosta de emoções. Ver seu time ganhar. Quando a vitória é de virada essas emoções ultrapassam os limites. Um desses jogos aconteceu no Mutange em 1954. Alagoas e Paraíba jogavam pelo campeonato brasileiro de seleções.
Durante toda a semana que antecedeu ao jogo, o plantel da seleção foi sacudido com um caso disciplinar. O zagueiro Dirson não aprovava a escalação do goleiro Almir que pertencia ao CSA. Ele afirmava que Alagoas precisava vencer um jogo difícil, e Almir não tinha a experiência necessária para enfrentar os paraibanos. O goleiro ideal seria Epaminondas. Os outros jogadores se dividiam e o clima não era bom. O treinador Aurélio Munt manteve a escalação com o goleiro Almir e o zagueiro Dirson que era o titular da posição.
Talvez devido aos fatores extra campo, a nossa seleção fez um péssimo primeiro tempo. A defesa alagoana estava toda atrapalhada, principalmente, o pivô dos acontecimentos, Dirson. Mesmo assim, os quarenta e cinco minutos iniciais terminaram com um a um no marcador. Bequinho fez o gol alagoano e Ruivo para os paraibanos. No intervalo, a torcida tentou agredir o zagueiro Dirson que era apontado como culpado pela má atuação da seleção. Foi preciso a intervenção policial para proteger o jogador.
Nervosos, os jogadores voltaram para o segundo tempo com Bequinho fazendo numero na ponta direita. Estava contundido e não havia substituições. Para piorar a situação, os paraibanos marcaram mais dois gols. Zezinho e Alfredinho se aproveitaram das falhas da nossa defesa e colocaram 3×1 no marcador. A partir daí, aconteceram coisas que somente a raça, a fibra e a capacidade de reação dos nossos jogadores poderiam proporcionar. Quando Tonheiro assinalou o segundo gol de Alagoas, a torcida passou a ajudar a seleção. Os gritos de incentivo mexeram com os brios de nossos atletas que começaram a jogar em ritmo alucinante. Dida aparecia como a grande figura do jogo e comandou a reação. Fez dois gols que decidiram o marcador em 4×3. O gol da vitória foi sensacional. Depois de driblar vários paraibanos, ficou sem angulo, e, mesmo assim, chutou forte para vencer o goleiro Harry Carrey e fazer a torcida explodir de contentamento. Quando o juiz Waldomiro Breda apitou o final da partida, o campo foi invadido pela torcida, que fez um verdadeiro carnaval para comemorar um jogo que estava perdido, e se transformou numa das mais maravilhosas viradas do futebol alagoano. Todos esqueceram os problemas da semana, até o zagueiro Dirson participou da festa junto com os torcedores.
Dida, o grande nome da partida, era o mais festejado. Até o governador Arnon de Mello esteve nos vestiários para cumprimentar o artilheiro. Logo depois, Dida viajava para o Rio de Janeiro a fim de defender o Flamengo, Os heróis daquele jogo foram Almir, Dirson e Orizon. Piolho. Zanélio e Mourão;Helio Miranda. Dida. Bequinho; Tonheiro e Géo.
Por Lauthenay Perdigão