Álbum do Futebol – O gol mudou o destino de Sávio

 

A história dramática do artilheiro que cresceu no meio da violência e nunca perdeu o otimismo.

A infância do catarinense Domingos Sávio da Silva foi sempre marcada por uma incrível violência, em Xanxerê, no oeste do Estado, onde a brutalidade era sinônimo de lei. Esse homem, casado com Nilva Aparecida, optou pelo futebol para não se tornar um marginal. Depois de quase seis anos de luta, sem oportunidade, aparece para o Brasil como um dos artilheiros da taça de Prata.

– Durante toda minha infância fui conduzido para ser um assassino. Meu padrasto Joel me estimulava a andar com uma faca na cintura ou um pedaço de pau. Enfim, alguma coisa certamente mais cedo ou mais tarde faria de mim um assassino. Resisti, não ouvia os seus conselhos e procurei uma fuga no futebol. Posso ser tudo na vida, mas me orgulho de não haver me tornado um marginal.

Na pequena Xanxerê, onde morava com mais quatro irmãos, a mãe, Dona Terezinha e o padrasto, Joel, um homem muito violento apesar dos seus 23 anos. Sávio passou todo tipo de dificuldade. A comida, do café ao feijão, era contada e ninguém tinha o direito de repeti-la, porque não dava para todos. Dormiam os três irmãos na mesma esteira e o trabalho da casa ficava sob sua responsabilidade, já que sua mãe era professora primária. Além disso, ainda tomava conta do filho menor do padrasto, um garotinho de dois anos. Submetia-se a uma rotina brutal. Obrigado a deitar-se já de madrugada, depois que terminava o carteado, levantava-se antes das 5 da manhã para vestir seus irmãos, fazer café e manda-lo para o Grupo Escolar.

Aos sete anos já tinha o senso de responsabilidade de adulto Foi também nessa época, quando começou a conhecer a dureza da vida, que Sávio soube como ficou órfão de pai, com apenas um ano de vida. O velho Genésio da Silva era caminhoneiro e havia chegado de viagem. E foi logo sentando numa mesa de pôquer. Nesse dia, estava na mesa um dos Ardigo, com quem a família de Sávio tinha uma antiga rixa. Quando o seu Genésio sentiu que estava sendo roubado, deu uma cadeirada em Martin Ardigo. Tonto e sangrando, Martin saiu do bar em busca de seu pai, o terrível velho Ardigo. Todos insistiram para que Genésio fugisse e ele teimou em ficar. Não demorou muito e o velho Ardigo chegou mostrando o rosto do seu filho ao pai de Sávio e lhe deu dois tiros à queima-roupa. Foi assim que Sávio ficou órfão.

Quando o padrasto abandonou a família e foi trabalhar no Mato Grosso, Sávio foi morar com o avô no Rio Grande do Sul. Era a oportunidade que tinha de começar uma vida nova. E ele foi trabalhar como entregador de um mini mercado. Ganhava 120 cruzeiros o que dava para pagar o colégio, passagem do ônibus e ainda manda algum dinheiro para a mãe. Entre uma pelada e outra foi melhorando de situação e passou a ser auxiliar de escritório. Mas a grande paixão, agora mais do que nunca, era a bola. Já tinha vaga garantida no time de futsal da cidade. Em pouco tempo já estava disputado o campeonato regional do Rio Grande do Sul e tornando-se o artilheiro da competição com 24 gols e chamando a atenção do Juventus que o profissionalizou. Passou a receber 700 cruzeiros mensais. A família não queria e apenas seu avô lhe dava apoio. Depois de servir ao Exército, em 1976, recebeu passe livre do Juventus e foi contratado pelo Joinville por indicação do técnico Velha. Depois passou pelo Avaí, novamente Joinville e surgiu a chance de jogar no futebol paulista atuando pelo Juventus. Estava num bom clube, mas não jogava. Contrataram o Geraldão e Sávio ficou na reserva.

Em 1981 apareceu o Anapolina na sua vida. Disputou o campeonato goiano e marcou 34 gols. É a grande revelação da Taça de Prata e espera jogar num grande clube do Brasil. Sávio sabe que sua grande habilidade é a presença na área que poderá lhe garantir uma carreira de sucesso. Sávio venceu seu próprio destino. Deixou de ser um marginal e transformou-se num temido e competente artilheiro.

(Reportagem de Placar em 1981)

 
Fonte : www.museudosesportes.com.br

Deixe um comentário